Pragas e Doenças


O Guaranazeiro por ser uma planta rústica que se adaptou bem aos solos e clima Baiano (Baixo Sul da Bahia), acredita-se que não ocorra incidências de pragas e doenças como acontece no estado do Amazonas. No entanto, as mesmas doenças que acometem os plantios de guaraná na região Amazônica, também acometem os plantios no Baixo Sul da Bahia, todavia em menor proporção. Mas o problema maior é que os agricultores e técnicos, na sua grande maioria, não sabem identificar as doenças e pragas que atingem as lavouras de guaraná na região, dificultando dessa forma o seu controle. E estes ataques de doenças e pragas, associadas ao manejo incorreto do guaraná, tem levado às quedas de produção ano após ano. E estas quedas na produtividade têm sido atribuídas às mudanças de clima, o que, na minha opinião, é um tremendo engano.

Aqui você encontra as principais pragas e doenças que afetam a lavoura do guaranazeiro.

Tripes

O tripes (Liothrips adisi) é o inseto que causa os maiores danos ao guaranazeiro no Amazonas. 

São insetos de coloração negra na fase adulta; quando jovens, são menores, alaranjados ou avermelhados. No início do período seco, o inseto se multiplica rapidamente e permanece na cultura durante a floração e a frutificação. (GARCIA, 1998). 

Desenvolve-se (ovo, ninfa e adulto) geralmente na parte inferior de folhas em estádio inicial de desenvolvimento, onde causa deformações e queda, e nas inflorescências, provocando o secamento prematuro das flores. Essa espécie também ataca os frutos nos estádios iniciais de seu desenvolvimento, comprometendo o crescimento e a qualidade.


Fonte: PEREIRA, José CR. Cultura do guaranazeiro no Amazonas. Embrapa Amazônia Ocidental-Sistema de Produção (INFOTECA-E), 2005.

Foto: Adailton Matos

Outras pragas

Sobre a ocorrência de pragas que atacam os guaranazais, Schimidt citado por Pantoja (s.d.) faz referência à "caba da roça· Aegerina vignea Busek - lepdoptero que, na fase de larva, ataca os ramos novos da planta; a "borboleta branca" - Ateroma albella Zelle - que penetra no caule fazendo galerias; ao "gafanhoto pequeno" - Acridium sp. - que corta os ramos novos, flores e frutos dos guaranazeiros velhos e as folhas das plantas novas.


Fonte: DE NAZARÉ, R. F. R.; FIGUEIREDO, FJC. Contribuição ao estudo do guaraná. Embrapa Amazônia Oriental-Documentos (INFOTECA-E), 1982.

Foto: Adailton Matos


Outras pragas

De acordo com Seffer (1961) existem algumas espécies de insetos atacando a folhagem das plantas de guaraná. Dentre essas, destacam.se os insetos da ordem Hymenoptera, família Formicidae, Acromyrmex coronatus (F., 1804), Atta cephalotes (L., 1758), Atta sexdens (L., 1758); na ordem Homoptera, família Ortheziidae destaca-se Orthezia sp. que ataca principalmente a face inferior das folhas; e atacando as sementes é feita referência a uma lagarta indeterminada pertencente a ordem Lepdoptera.


Fonte: DE NAZARÉ, R. F. R.; FIGUEIREDO, FJC. Contribuição ao estudo do guaraná. Embrapa Amazônia Oriental-Documentos (INFOTECA-E), 1982.

Foto: Adailton Matos

Antracnose 

Entre as causas da baixa produtividade da cultura no Amazonas, destacam-se as doenças. A antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola, é a principal delas, infligindo pesadas perdas, tornando-se, assim, um dos fatores limitantes à expansão e produtividade dos guaranazais do Amazonas (Batista, 1983).

Dentre as alternativas de controle de doença, sobressaem o uso de variedades resistentes e a aplicação de fungicidas. O uso de variedades resistentes é a medida mais eficiente e econômica de controle de doença. Entre os clones de guaranazeiro lançados pela Embrapa Amazônia Ocidental ocorrem materiais com bons níveis de resistência à antracnose no campo. 

Além da utilização de cultivares resistentes e ou do emprego de fungicidas, outras estratégias de controle, nas quais se procura empregar práticas de fuga do patógeno e/ou da modificação do ambiente, podem ser implementadas. Neste caso, conforme Kimati e Bergamin Filho (1995), o que se objetiva é a condução da cultura, através da modificação em sua fisiologia ou mesmo modificação no ambiente, de forma que a renovação foliar não coincida com as condições climáticas favoráveis ao patógeno e/ou a sua disseminação. Estratégias de controle voltadas para o ambiente com reflexos na concentração e, principalmente, no potencial de inoculo. as quais se constituem numa fuga dirigida contra o patógeno, atuam no desenvolvimento da doença, retardando o seu progresso, o que tem sido definido como táticas de evasão ou regulação (Kimati e Bergamin Filho, 1995).

A antracnose ataca as plantas em qualquer estádio de desenvolvimento, causando lesões necróticas em folhas e hastes. Entretanto, a susceptibilidade destes órgãos ao fungo ocorre na fase anterior à maturação fisiológica. Dessa forma, os sintomas manifestam-se nos lançamentos novos, cuja emissão predomina na época chuvosa, principalmente no período de março a junho, ocasião mais favorável à disseminação da doença. Observa-se, ainda, desuniformidade nos lançamentos dos materiais, sendo uns precoces e outros tardios. A manifestação da doença, portanto, está relacionada à fenologia da planta.

Fungicidas efetivos no controle da antracnose do guaranazeiro:

Produto comercial:

Cercobin (700); Cercobin (500); Folicur (200) 

 

Fonte: ARAÚJO, JCA et al. Poda fitossanitária no controle da antracnose do guaranazeiro. Embrapa Pecuária Sudeste-Capítulo em livro científico (ALICE), 2007.

Foto: Adailton Matos


Crestamento abiótico em mudas de guaranazeiro.

A adoção inadequada das técnicas para produção de mudas do guaranazeiro, na maioria das vezes, favorece o aparecimento de doenças abióticas, que são oriundas de distúrbios fisiológicos, fatores desfavoráveis do solo, condições adversas do meio ambiente e práticas de manejo inadequadas, como irrigação e adubação.

No diagnósticos de doenças abióticas, produtores e técnicos, muitas vezes, confundem-nas com as doenças de origem infecciosa, porque em plantas estressadas é comum a presença de um patógeno oportunista. Na cultura do guaranazeiro, principalmente na fase de produção de mudas, não é diferente.

Os sintomas da doença Crestamento Abiótico são resultantes da toxidez causada por maior disponibilidade de ferro (Fe), induzida sob condições anaeróbicas propiciadas pelo encharcamento do solo, no qual as mudas estavam acondicionadas. 

No período chuvoso, o sintoma inicia-se pelos folíolos 2 e 3, propagando para o 1 e, finalmente, para o 4 e 5. A anomalia foliar é caracterizada pela formação de manchas de formato irregular, coloração marrom-clara do tipo anasarca e com distribuição simétrica no folíolo e entre folíolos opostos. Com o progresso da doença, as manchas adquirem coloração cinza-palha, característico de tecidos foliares dessecados. Embora as proporções significativas do limbo sequem, não ocorre queda de folíolos devido ao fato de as nervuras principais e secundárias permanecerem verdes, portanto viáveis. Desta forma, com reduzida área fotossinteticamente ativa, as plantas têm seu desenvolvimento penalizado. 


Fonte: PEREIRA, JCR et al. Crestamento abiótico em mudas de guaranazeiro. Embrapa Soja-Documentos (INFOTECA-E), 2013.

Foto: Embrapa.

Superbrotamento 

O superbrotamento é uma das principais doenças do guaranazeiro e vem assumindo importância crescente nos municípios produtores. As plantas podem apresentar sintomas desde o estádio de muda, acarretando-lhes atraso no desenvolvimento até a fase adulta, com diminuição da produção, que em algumas plantas pode atingir 100% (Batista & Bolkan, 1982). A doença afeta órgãos da planta em ativo crescimento, como os ramos novos e inflorescências.

Nas brotações ocorrem os sintomas de superbrotamento, e neste particular assemelham-se à vassoura-de-bruxa do cacaueiro e do cupuaçuzeiro, causada pelo fungo Moniliophtora perniciosa, caracterizado pela multiplicação exagerada de células com o surgimento de numerosas brotações, formando massa densa e desuniforme.  Em inflorescências, também ocorre multiplicação exagerada de células dando às flores um aspecto de cálice compacto e endurecido, impedindo a polinização e secando precocemente.

Um dos principais efeitos do superbrotamento nas plantas de guaranazeiro, devido à multiplicação exagerada de células, tanto em gemas florais, quanto em gemas vegetativas, reside no fato de estabelecer um dreno ou sítio de competição entre as partes infectadas da planta e os ramos e/ou folhas sadias, em detrimento do crescimento estrutural e, em última análise, da produtividade das plantas.

Devido ao fato de a doença ocorrer durante todo o ano, independentemente do estádio fenológico, a utilização de pulverizações com fungicidas torna-se economicamente inviável. Assim, para o controle do superbrotamento, recomenda-se realizar inspeções fitossanitárias periódicas em intervalos regulares de 30 dias, a partir do mês de fevereiro até o mês de setembro. Durante as inspeções fazer a eliminação das partes afetadas, seccionando-se o lançamento, aproximadamente 10 cm abaixo do início do superbrotamento. É necessário que se proceda à poda fitossanitária, eliminando-se as partes da planta afetadas pela doença, quando elas ainda estiverem verdes, de forma a prevenir maiores danos ao guaranazeiro. Quando a doença incidir nas inflorescências, recomenda-se eliminar todo o lançamento portador, seccionando-se 10 cm abaixo da última inflorescência a apresentar superbrotamento. As partes cortadas da planta devem ser retiradas da área de cultivo.


Fonte: DE ARAÚJO, José Cristino Abreu et al. Poda fitossanitária no controle do superbrotamento do guaranazeiro. Embrapa Amazônia Ocidental-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2005.

Foto: Embrapa. 

Mancha Angular do Guaranazeiro

 A mancha angular do guaranazeiro (Paullinia cupana var. sorbilis), causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. paullinae, é uma doença de incidência baixa, porém de severidade muito elevada que pode induzir morte prematura em plantas jovens de guaranazeiro.

Os sintomas da doença são caracterizados inicialmente pelo surgimento de lesões do tipo anasarca ou mancha com aspecto oleoso nas folhas dos ramos baixeiros da planta. As lesões são de formato irregular, com ou sem presença de halo amarelo, e restritas às áreas do limbo foliar delimitadas pela nervura principal e pelas nervuras secundárias.

Com o progresso da doença, as lesões adquirem coloração marrom-avermelhada, e o tecido correspondente à área da lesão apresenta-se desidratado. A coalescência das lesões leva à queda prematura das folhas.


Fonte: PEREIRA, JCR et al. Controle químico da mancha angular do guaranazeiro. Embrapa Amazônia Ocidental-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2008.

Foto: Embrapa.

 


Mancha Concêntrica do Guaranazeiro

Essa doença foi descrita por Araújo et al. (2008), e o patógeno foi identificado como sendo Rhizoctonia solani. A doença é caracterizada por manchas concêntricas marrons, predominantemente circulares, com centro puntiforme. A coalescência de várias lesões pode induzir a formação de grandes áreas cloróticas circundando as lesões, e, neste caso em especial, ocorre significativa redução da área foliar fotossinteticamente ativa. Como não há, via de regra, queda de folíolos com elevado número de lesões e crescente área clorótica, ocorrem também reduções no crescimento estrutural, o que paralisa ou reduz o desenvolvimento das plantas. 

Considerando que o fungo R. solani produz estruturas de resistência que lhe permitem sobreviver no solo por longos períodos e que embora exista fungicida efetivo contra esse fungo, não há registro para uso na cultura do guaranazeiro, as únicas estratégias de controle disponíveis são a exclusão (evitar a introdução da doença no viveiro de guaranazeiro) e a erradicação ou eliminação das mudas infectadas (rougin). 


Fonte: PEREIRA, JCR et al. Avaliação da incidência da mancha concêntrica do guaranazeiro em viveiro. Embrapa Amazônia Ocidental-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2013.

Foto: Adailton Matos

Crosta preta 

Freire & Albuquerque (1978) descreveram uma nova doença das folhas do guaraná, a qual denominaram Crosta preta, causada pelo fungo Septoria sp. A doença, observada em Belém, em caráter epidêmico nas plantas da quadra do CPATU (EMBRAPA), é caracterizada pelo aparecimento de pequenos pontos negros e estromáticos, isolados ou coalescentes, visíveis à vista desarmada, localizados na face superior da folha. A lesão não afeta os tecidos adjacentes. Resultados alcançados por Duarte et aI. (1980), visando ao controle da doença em indivíduos mantidos em condições de viveiro, indicam o Captâfol com 85,71 % de eficiência e Mancozeb com 77,54%, como os principais produtos no combate à doença, quando aplicados em intervalos quinzenais.


Fonte: MACHADO, Othon. Contribuição ao estudo das plantas medicinais do Brasil-O Guaraná. Rodriguesia, n. 20, p. 89-110, 1946.



 

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